quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A questão ideológica. Parte 1.

A tradição marxista.
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Ao contrário do habitualmente considerado não é com " Ideologia Alemã " que o conceito de Ideologia ganha a concepção que hoje conhecemos e entendemos. Aliás, tal não seria possível se tivermos em conta e como ponto de partida o trabalho de um teórico burguês marcadamente moldado pelo capitalismo vitoriano, Karl Marx. É preciso esperar pelo revisionismo de Bernstein, primeiro, e por Lénin, depois, no seu panfleto incontornável, " Que fazer ", para a questão ideológica ganhar contornos de posição central no processo de luta revolucionária, ultrapassando a mera abordagem sob a vaga teoria da " ideia moral ".
Como escreveu Lénin, a Ideologia é um facto e um instrumento de luta: " a única hipótese é, ideologia burguesa ou ideologia socialista numa sociedade dividida por antagonismos de classe ", evidentes e claros.
Como Lénin lembrou, sem Ideologia a classe trabalhadora não passa da consciência sindical. Em parte, a vitória bolchevique de 1917 deu razão a Lénin, mas o colapso previsível do comunismo abriu, erradamente, as portas aos defensores do fim ou da morte das ideologias, o que em si-mesmo é uma posição ideológica da pretensa não ideologia da pós modernidade e das teorias do fim da História, tudo considerandos oportunos ao Sistema e aos interesses do Capital.
Após Lénin, é preciso seguir com atenção os contributos de
Georg Lukacs, onde a ideologia se prova e defende na praxis e a perspectiva idealista refuta o corpo teórico de Engels,
Antonio Gramsci, onde a reflexão ideológica atinge níveis elevados, chegando à tese sustentada de que raramente o Poder precisa de recorrer à força para manter o seu domínio, o que introduz o conceito histórico-político de hegemonia e sobrevivência do Capitalismo, terminando este breve levantamento com
Louis Althusser, para quem a Ideologia é o processo atravês do qual as pessoas vivem a sua relação com a realidade.
Essencialmente, para lá do facto de qualquer destes autores merecerem a nossa leitura e estudo aprofundados, a reter fica desde já que será nos momentos e espaços não marxistas de um Althusser ou de um Gramsci que nos devemos fundamentar para o estudo do conceito de Ideologia, recusando o embuste dos que insistem não passar o caminho para a Acção pelo postulado e reforço ideológico.
Neste breve apanhado não queremos esquecer os contributos para um debate em torno da questão ideológica de Weber, Durkheim, Adorno, Marcuse, a própria Ulrike Meinhoff, Chomsky, Negri e, em especial, os paradigmas pessimistas de Habermas que desvaloriza o conceito de Trabalho em benefício do de Interacção, onde a crítica e condenação da sociedade industrial de Marcuse está sempre presente.