Não está em causa defender ou sequer apoiar a política do Ministério da Educação. Ou o estado, péssimo, em colapso, da Escola Pública deste País. Nem sequer as razões do protesto dos professores, útil no momento de indignação que começa, por fim, a despontar, mais ou menos generalizado. Toda a contestação é benvinda. Toda a mobilização é pouca. Mas tenhamos sempre bem presente as coordenadas de uma leitura ideológica. Os professores lutam por terem um estatuto profissional e um enquadramento sindical que os protege e incentiva. Os professores pertencem a uma classe que luta por regalias obtidas com o 25 de Abril. A luta dos professores é corporativa, é a luta da classe média que povoa o centrão político anichada em interesses corporativos. Veja-se a colagem imediata de Luís Filipe Menezes à Fenprof. Esta é a luta dos que ano após ano votam no PS ou no PSD para que tudo fique na mesma. Alheia à luta mais vasta dos trabalhadores portugueses. Ideológicamente burguesa e reaccionária, típica da nossa esquerda, reaccionária, corporativa e situacionista por princípio, alérgica a mudanças ou a transformações revolucionárias. Acomodada. Egoísta. Oportunista. Esta é uma luta centrada em direitos de uma função pública que pouco se preocupa com o País trabalhador. O do privado. O dos precários. Apoiar a luta dos professores implica não esquecer que é esta mesma classe quem está nas escolas com os resultados obtidos. Que conduziu o Ensino ao estado lastimoso em que se encontra. A luta dos professores só faz realmente sentido se exigir, mais do que a mudança de uma Ministra ou a defesa de regalias, uma nova política de Educação. Uma política voltada para princípios de exigência onde os professores não podem estar acima dessa mesma exigência. Uma política que ataque os interesses corporativos em defesa das nossas crianças. Uma política que rompa com este sistema de anos e cuja responsabilidade é no limite, também, dos professores e do modelo corporativo que tão empenhadamente agora defendem. Contra os professores se necessário for. Como terá de ser. Sem arrogâncias autistas e impotentes, como as de Maria Lourdes Rodrigues, mas sempre a pensar, primeiramente, no futuro de Portugal. Que as lutas em curso não nos façam perder critérios de apreciação. Para mais do mesmo já chega. E aqui, como em quase tudo neste País, não encontramos grandes preocupações pelas crianças mas apenas questões financeiras e um medo enorme à avaliação. Como responsáveis os professores terão de ser avaliados. E responsabilizados. Noutros moldes, certamente. Como também num Sistema mais global radicalmente diferente do que temos. Onde se aprenda a ler e a escrever e contar, pelo menos. Onde a tralha pedagógica seja esquecida. Onde a Família cumpra e recupere o seu papel de educar e a escola não sirva de veio de transmissão ideológica mas de ensino. Onde impere o rigor e a disciplina. A qualidade. A autoridade. O mérito. Onde, como esta Ministra, não caberão, de certeza, muitos professores que agora saíram à rua. Queremos uma Escola onde se perceba para que serve e como serve.